Page 7 - Letras da Maior 2ª Edição
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Letras da Maior
UM OLHAR SOBRE A ESCOLA
Palavras do Doutor Benjamin Moreira,
Diretor do Agrupamento
Abril
Quando nos pomos a pensar encontramos no passado coisas que nos aconte-
ceram e que gostaríamos que não tivessem acontecido. Mas há um muito maior
número de coisas que nos moldaram em muito do que hoje somos e que não
podemos nem queremos esquecer.
Provavelmente todos os jovens sonham um dia transformar o mundo. No meu
caso, foi em abril de 74 que a minha consciência humana despertou. Estava no Benjamim Moreira, Diretor do Agrupamento
liceu, no que é hoje o 10º ano, e o meu interesse era quase todo a atração pelo
saber, desejo que então era realizado através da leitura e do conhecimento
transmitido pelos professores (não se esqueçam que a internet nasceu convos-
co e a televisão, connosco, mas de evolução lenta).
Há uma questão que por ser tão incrível tenho de levantar aqui pois continua a
perturbar-me. Conseguem imaginar as crianças de 10 anos irem trabalhar para
fábricas no dia seguinte à conclusão da 4ª classe? Depois passaram a ir traba-
lhar com 12 anos. Era isso o que acontecia com a grande maioria das crianças
portuguesas. Já pensaram mesmo nisso?
Em abril de 74 nós, jovens, como que por magia, ‘vimos, ouvimos e lemos’, 7.
descobrimos uma grande vontade de transformar o mundo. Descobrimos que
não basta ser capaz de explicar o mundo, que mais importante é transformá-lo.
E no meio de intensas discussões fomos capazes de definir liberdade, igualdade,
educação, desenvolvimento, futuro.
Aos 16 anos acreditei num grande futuro para o nosso país assente numa
escola mãe desse nosso futuro coletivo, como dizia o Ruben Adão. Daí a minha
opção de vida – homo faber (aquele que se realiza na sua própria ação), isto é:
ser Professor.
Foi essa até hoje a minha aposta: ajudar cada um dos meus alunos a descobrir a
importância da sua própria ação (o seu plano de transformação) e, por essa via,
o seu papel único para todos termos um futuro melhor.
Esta é a minha homenagem ao 25 de abril e aos muitos alunos e professores
que acalentaram os meus sonhos mantendo-me dessa forma sempre motivado.
É andando que demonstramos que o movimento existe.